Lourdimar
Silva – MML Maranhão
O
dia 25 de julho foi instituído como o Dia Internacional da Mulher Negra
Latino-americana e Caribenha, em 1992, quando a República Dominicana sediou o
Iº Encontro de Mulheres Negras. Nesta data é importante lembrar a necessidade
de reflexão em outros dias do ano, sobre as condições de vida das mulheres
negras e o papel que cumprimos em resistir com garra e força diante da
combinação do racismo, machismo, lesbofobia, transfobia e a exploração capitalista. Queremos lembrar
este dia 25 de julho como dia de luta e resistência das milhões de mulheres,
negras, que tiveram em suas trajetórias de vida a marca da exploração e
opressão violenta que sofreram e sofrem. Em diversos aspectos da sociedade
observamos o lugar que ocupa hoje a mulher negra, um lugar de inferioridade no
mundo do trabalho, das maiores estatísticas no âmbito da violência, e são as
que têm menos acesso aos serviços públicos.
Quando
tratamos de relações de trabalho, o setor mais vulnerável hoje na sociedade
brasileira são as mulheres negras, que tem ocupado os piores postos, atividades
de subemprego, baixa remuneração, sem proteção trabalhista e postos
precarizados e insalubres, sendo a maioria no trabalho informal. Segundo dados
do IPEA, a maioria das chefias de família hoje é de mulheres negras (51,1%), a
maioria são mães solteiras e não possuem ninguém para dividir o cuidado com os
filhos. Dados do IBGE nos mostram que do total da população que vive em situação
de extrema pobreza, 70,8% são afrodescendentes e em sua maioria são mulheres.
As mulheres negras chegam a receber 50% a menos que os homens brancos na mesma
função.
O
trabalho doméstico é uma função que é exercida em sua maioria por estas
mulheres e por muito tempo não era regido pela legislação trabalhista, o que
ainda o torna uma das mercadorias mais baratas, além de ser considerado
trabalho inferior. Dos 7,2 milhões que exerciam trabalho doméstico, em 2009
(IPEA), 93% são mulheres. Dentro deste grupo, 61,6% são negras. Assim, para que
o trabalho de outros se efetivem, como o marido, o patrão e mulher dona da
casa,a mulher negra é condicionada em diversos níveis de subordinação e
exploração. Todo esse perfil nos demonstra as raízes racistas e machistas da
sociedade brasileira.
Estes
são dados que demonstram que nós, mulheres negras e pobres, é que somos as mais
atingidas com os problemas sociais. Somos nós que precisamos usar transporte
coletivo, que temos menos acesso à escolaridade, que andamos em ruas mal
iluminadas e paradas de ônibus sem segurança. Somos nós mulheres negras que, em
situação de desigualdade, mais sofremos com a precariedade dos serviços básicos
de saúde, educação e moradia.Grande parte destes problemas decorre dos cortes
sociais nestas áreas, feitos para satisfazer banqueiros. Em São Paulo, faltam
107 mil vagas em creches. No que se refere à saúde a redução de gastos vai
piorar ainda mais as precárias condições existentes, já que hoje muitas
mulheres negras são levadas à morte em razão de abortos e da predisposição
biológica para doenças étnicas. Cerca de 1600 mulheres morrem por causa da
gravidez, antes ou durante os primeiros 42 dias após o parto. No Brasil, o
direito ao aborto legal e público tem sido sistematicamente barrado pelos
governantes e seus aliados entre os setores mais conservadores da sociedade.O
resultado tem sido um aumento significativo de mortes decorrentes de abortos
improvisados, clandestinos e perigosos.
Sobre
a realidade brutal da violência contra a mulher a nível mundial, nós mulheres
negras somos, nos anos entre 2007 e 2009, mais de 80% das mulheres
assassinadas. Isto ocorre como consequência, muitas vezes, de outros tipos de
violência, abusos, pressão psicológica, violência doméstica, tráfico de
pessoas, estupros. Somos 60% das vítimas da violência doméstica e sexual.
Moramos nos bairros pobres com ruas mal iluminadas e inseguras, e onde faltam
delegacias da mulher e casas-abrigo. Uma dura combinação de falta de políticas sociais, super exploração e violência por parte da polícia. Somos vítimas da violência policial, nossos filhos são diariamente assassinados nas periferias de todo o país.
Maria de Fátima, mãe do DG |
Durante todo o percurso da história no Brasil escravista, nós mulheres negras fomos transformadas em objeto sexual e alvo de constantes estupros, abusos sexuais, pelos senhores de engenho e de seus filhos. Passamos a ser vistas como objeto de reprodução sexual, e nossa sexualidade, considerada como algo exótico, excitava senhores e iniciava seus filhos à prática sexual. A utilização sexual das mulheres e a prostituição eram consentidas pelas famílias burguesas e pela Igreja Católica, que via nessas práticas formas de proteger a sexualidade das “mulheres de boas famílias” e as esposas que não podiam sentir prazer, cabendo-lhes apenas o papel de reprodutora.
Em
situação de grande exploração, falta de acesso aos serviços de saúde, educação,
transporte, moradia, as mulheres negras são expostas à brutais situações de
violência ligada a exploração sexual. Mesmo com dados insuficientes sobre o
tema, uma pesquisa no Brasil, baseada em dados da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República,demonstrou que foram registrados, entre
2003 e março de 2011, 52 mil denúncias de violência sexual contra crianças e
adolescentes de todo o país, sendo que oito em cada dez vítimas são meninas.
É
vergonhoso que uma mulher que se encontra no principal posto de poder hoje no
país, seja a diretamente responsável pelos sofrimentos impostos aos
trabalhadores, sobre tudo às mulheres negras. A ausência ou a não aplicação de
políticas públicas para as mulheres pelos governos é uma violência
institucional que atinge principalmente as mulheres trabalhadoras negras. As
leis que punem são importantes para proteger a mulher e tentar coibir os casos
de violência. O descaso da presidente Dilma com a situação das mulheres hoje no
Brasil é mais uma demonstração de que estes problemas são faces de uma questão
mais profunda, relacionada diretamente à uma questão de classe. As raízes do
nível e opressão e exploração sofrida por nós mulheres negras e por todos os
setores oprimidos, estão ligadas às bases em que se sustenta a sociedade capitalista.
As formas de opressão é uma ferramenta usada pela burguesia, para melhor
explorar, aumentar seus lucros e dividir a classe trabalhadora. Os dados e a
realidade nos mostram que as mulheres que mais sofrem com o racismo e o
machismo são as mulheres trabalhadoras, e Dilma como presidente não defende
nossos interesses, mas sim os interesses da classe a que pertence: a burguesia.
O
governo do PT retira direitos e suas políticas não tem nenhum compromisso com a
promoção da igualdade racial. É preciso investir em uma política específica
para as mulheres negras, que vise combater o desemprego, a violência e a baixa
formação escolar que atingem particularmente a população feminina negra. Precisamos
de creches públicas para que possamos trabalhar e ter independência financeira.
Para isso é preciso aplicar 10% do PIB para educação.Queremos acabar com a
discriminação no mercado de trabalho, por isso defendemos a constituição de uma
lei nacional que garanta salário igual para trabalho igual. Defendemos as
políticas de cotas raciais, as políticas afirmativas e de reparações, nas
universidades, no mundo do trabalho e em todos os espaços onde não esteja
refletida a realidade populacional negra.
No
Brasil as experiências de lutas dos negros se deram através de fugas, revoltas
individuais e grupais, atos isolados, etc., porém foram os quilombos,
principalmente o de Palmares, que durou aproximadamente sessenta e cinco anos, onde
observamos a maior tentativa de autogestão com organização militar, econômica e
social. As mulheres negras tiveram papel importante nas lutas, suas atuações foram
diversas: suicídio, abortos, organização de fugas, nos movimentos
emancipatórios, etc., além, das formas mais ativas como revoltas, guerrilhas e
organização de quilombos. As mulheres negras cumpriram papel importante e
determinante na resistência da cultura africana no Brasil, principalmente
através da religião.O poder que as mulheres exercem nos territórios de
terreiros é variado incidindo sobre organização de vida individual e social.
Entendemos
que é preciso resgatar a força e a coragem das mulheres que resistiram às
condições de escravidão, das mulheres quilombolas e indígenas, para que junto,
homens e mulheres trabalhadoras lutem contra o capitalismo que se nutre da
opressão para garantir o lucro acima de tudo. Nossa luta, contra o racismo, o machismo
e qualquer forma de opressão, é também uma luta pela construção de uma
sociedade sem classes, por isso lutamos pela construção do socialismo pois acreditamos que a liberdade e
a emancipação das mulheres negras não se dará nesta sociedade. Queremos que todos os dias sejam de luta e resistência contra o
machismo, racismo e todo tipo de opressão!
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