Por Letícia Rafaela e JulianaTrevine, do MML Brasilândia/SP
Há uma dívida histórica com as mulheres negras. Desde
a escravidão, quando foram submetidas ao trabalho forçado, estupradas e
torturadas, passando pela abolição, quando foram libertas sem política de
reparação, ficando sem terras, emprego, educação e dignidade, até hoje, quando
são superexploradas no capitalismo e oprimidas com a combinação de machismo e
racismo. Tiveram sua identidade como negra tomada pela ideologia do
embranquecimento e ainda, negando a dívida para com as mulheres negras e
tentando esconder que o Brasil é um país racista, criou-se uma mentira, o mito
da democracia racial.
As mulheres negras são as aquelas que não só enfrentam
uma dupla ou tripla jornada de trabalho, como o fazem ocupando os piores postos.
São a maioria das terceirizadas e das empregadas domésticas. Aquelas mães que
não conseguem acompanhar o crescimento do filho, porque estão cuidando do filho
do patrão, como também, depois de crescidos, pensam todo dia se seu filho vai
conseguir voltar para casa ou se vai ser assassinado pela polícia em alguma
esquina.
São as mulheres mais suscetíveis à violência. O risco
de uma mulher negra sofrer algum tipo de violência aumentou 54% nos últimos 10
anos (enquanto o da mulher branca diminuiu 10%). Têm duas vezes mais chances de
serem assassinadas em relação às mulheres brancas. São 58,86% dos registros de
violência doméstica, 65,9% da violência obstétrica, 53,6% da mortalidade
materna e 56,8% dos casos de estupro (cultura esta que é resquício da
escravidão e que serviu de apoio para sustentar o mito da democracia racial, já
que a miscigenação no Brasil se deu pelo estupro de negras escravizadas pelos
senhores da casa grande).
Seus corpos foram “coisificados” e hiperssexualizados.
São vítimas de uma política de encarceramento injusta e desproporcional. Suas
religiões, perseguidas. Correm o risco de serem assassinadas enquanto LGBT’s
assumidas, no país que mais mata LGBT’s no mundo. Muitas, especialmente as
trans, se prostituem para sobreviver e são vitimas de turismo sexual. São
sujeitas ao estupro corretivo, quando lésbicas, e ao aborto inseguro em
clínicas clandestinas.
Como se não bastasse, sofrem com os descasos dos
governos. Dilma não governou para os setores oprimidos, assim como Temer também
não governa. Hoje, tentam aprovar a reforma da previdência, a trabalhista, do
ensino médio e a PEC 55 (antiga 241), que desmonta os serviços públicos já
sucateados, sendo que quem mais depende do sistema público de saúde e educação
são as mulheres negras.
MULHERES
NEGRAS SEGUEM FAZENDO HISTÓRIA
Na África, foram rainhas, sacerdotisas e guerreiras.
No Brasil escravocrata, organizaram e encabeçaram a resistência: eram liderança
de quilombos (como Aqualtune, Teresa de Quariterê, Dandara, Luisa Mahin, etc),
organizadoras de fugas e de movimentos emancipatórios.
Hoje, ocupam as escolas, universidades e institutos em
defesa da educação pública, e ocupam territórios na cidade e no campo. Fazem
greve pelos seus direitos, estão à frente das lutas contra a cultura do
estupro, a violência policial e a LGBTfobia.
Seguem sendo lideranças imprescindíveis, seguem sendo
exemplo de resistência e solidariedade. Seguem fazendo história junto com seus
irmãos de cor e de classe.
AQUILOMBAR
PARA REPARAR!FORA TEMER, FORA TODOS QUE NOS OPRIMEM E EXPLORAM!
Pelo povo negro nunca ter se submetido pacificamente à
escravidão, dizemos que o povo negro, hoje, para resistir e combater o
capitalismo, o machismo e o racismo, precisa também se organizar, se
aquilombar, com as mulheres à frente.
Precisam se aquilombar para reparar a violência
doméstica, sexual, econômica e psicológica às mulheres. Se aquilombar para
exigir empregos e salários iguais ao dos homens brancos, investimento no
combate ao machismo; creches públicas; cotas raciais e políticas de permanência
nas universidades; a desmilitarização da PM; a legalização do aborto; a
criminalização da LGBTfobia; a construção de delegacias da mulher com
atendimento especializado e preparado, funcionando 24h por dia; para combater a
terceirização; para exigir investimento na qualidade e expansão dos serviços
públicos (transporte, saúde, educação); para exigir demarcação de terras
quilombolas e indígenas.
Se aquilombar para combater o projeto de escola sem
partido e discutir gênero, racismo e sexualidade amplamente. Impedir a PEC 55 (antiga
241) que desmonta os serviços públicos e as reformas na previdência e
trabalhista. Para dizer que as mulheres não vão pagar por uma crise que não
fizeram e que seus responsáveis, os ricos, que devem pagar por ela, em vez de
aumentar os impostos, a inflação e a jornada de trabalho para sugar a classe
trabalhadora.
Se aquilombar para tirar o governo Temer e qualquer
outro que ataque as mulheres da classe trabalhadora, para acabar com o
machismo, racismo e o capitalismo, porque só assim as mulheres vão poder tomar
em suas mãos os seus destinos: quando a opressão e a exploração não mais
existirem.
Dia 20 de Novembro, dia da consciência negra,
marcharemos pelas periferias do país dizendo que é necessário “aquilombar para
reparar” por todos esses motivos, que é necessário organizar as negras e os
negros da classe trabalhadora em quilombos e conselhos populares para construir
uma greve geral no país e resistir a todos os ataques dos governos, rumo à
emancipação, a liberdade plena, do povo explorado e oprimido.
É por entender a necessidade pela reparação do povo
negro e de suas mulheres que o MML fará parte e convida todas as mulheres
negras e não negras a construírem conosco as Marchas da Periferia e as
atividades do Novembro Negro, junto às outras lutadoras, ocupantes e grevistas
negras, indígenas e aquilombadas ao redor do país!
Aquilombar para reparar o machismo, o racismo e a
exploração! Unidade dos trabalhadores para construir a greve geral!
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