Por Lilian Almeida, do MML Zona Sul/SP
No dia 11 deste mês na
unidade da fundação CASA da Brasilândia, na zona norte de São Paulo,
adolescentes do gênero feminino que cumprem medidas socioeducativas em meio
fechado, sofreram torturas e agressões pelos agentes homens e mulheres daquela
unidade. Se já não bastasse essa violação do corpo daquelas meninas manifestadas
por meio de agressão física e as torturas psicológicas que muitas sofrem
cotidianamente dentro destas unidades, as mães das adolescentes reclusas foram
privadas de informações de suas filhas além de um total desrespeito por parte
da instituição, como é mostrada em um vídeo.
A matéria que denuncia as
agressões e torturas relata que os
fatos podem ser comprovados em marcas, ferimentos, fraturas no corpo das
meninas e fotos. Sabemos que esse tipo de ocorrido não é um caso isolado, e que
em muitas outras unidades os adolescentes privados de sua liberdade são
agredidos de forma física e psicológica.
Lembremos o caso da unidade Raposo Tavares, onde o ministério público
pediu afastamento de pelo menos 15 funcionários por agressões aos adolescentes.
Sabemos também que os adolescentes e familiares que se atrevem a denunciar
sofrem perseguições e intimidações, ainda mais quando se é pobre e periférico.
Ocorridos como estes só demonstram que a tentativa de mudança do nome e
projeto da FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) para a Fundação CASA
(Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), e que a demissão de mais
de mil funcionários (mais da metade foram readmitidos) na aprovação do projeto
da fundação CASA em 2006 não foram o suficiente para superar o modelo punitivista,
racista e opressor do encarceramento em massa da nossa juventude.
As fundações CASA mesmo com
suas quatro gerências da parte
pedagógica, em que o atendimento tem como eixo a área escolar formal, educação
profissional, educação física e esportes, e a arte e cultura não são tão
diferentes dos presídios, as unidades são superlotadas, os adolescentes em sua
maioria: meninos, negros e de bairros periféricos - são desrespeitados,
agredidos.
A todo momento é violado o estatuto da criança e adolescente – ECA e o
SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, que estabelecem normas
de atendimento para adolescentes em conflito com a lei.
Mas todos que moram na periferia sabem que o mesmo braço armado que
mata nossos adolescentes nas vielas da favela é bem parecido com o que torturou
as meninas na fundação CASA, estes que também arrastaram Cláudia e encarceraram
Rafael Braga.
Os mesmos agentes da repressão que mataram Amarildo, assassinaram os 5
jovens na Zona Leste, é o braço armado que junto a esses governos, nos
exploram, nos humilham e dilaceram o coração de muitas mães que perdem seus
filhos ainda jovens. Para essas adolescentes foi negado dignidade, respeito e
muitas outras coisas que no papel das políticas ficaram lindas.
A única coisa que restou para estas jovens foi a punição pelo poder
burocrático judicial, e a opressão física e psicológica. Por isso nós, que não
esperamos nada de governo algum, pois sabemos que só a unidade das mulheres,
jovens da periferia, de toda a classe trabalhadora unida será capaz de mudar
algo, nos solidarizamos com essas mães e adolescentes que sofrem e sangram na
mão do judiciário e das instituições como a fundação CASA, e repudiamos a
atitude de obstrução de informações para essas mães assim como a atitude dos
agentes da instituição.
Exigimos a imediata apuração das denuncias e punição aos envolvidos.
Que essas adolescentes não sejam isoladas e que as mães e familiares possam
visita-las. É fundamental que essas instituições de caráter punitivo sejam superadas,
pois nossa juventude é vítima de um sistema excludente e negligente. Que seja
garantido acesso a educação pública e de qualidade, a cultura e lazer, e
principalmente que sejam garantidas perspectivas de futuro a meninas e meninos
das periferias do país.
Sabemos que para isso é necessário por fim ao sistema capitalista que
reproduz e mantém instituições opressoras e cujo objetivo central é o lucro, em
detrimento das condições sociais dos trabalhadores e sua família. Pela
construção de uma sociedade governada pelos e para os trabalhadores, pois o
sangue da ferida dessas meninas, assim como os de tantos jovens assassinados
escorrem na mão do judiciário, da PM e dos Governos burgueses !
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