Esta semana comemoramos a vitória das
trabalhadoras e trabalhadores da empresa Contax, em Porto Alegre, que
protagonizaram a primeira grande greve da história na empresa. Foram 29 dias de
luta contra o assédio moral, as humilhações por não cumprir metas, as idas
cronometradas ao banheiro, os baixos salários e o famoso “Vale-fome”, que é
como ficou conhecido o tíquete refeição de R$ 4,25 pagos pela empresa.
A indignação tomou conta e a pressão sofrida
pelos teleoperadores fez com que eles cruzassem os braços e parassem o
atendimento da regional. A ação provocou caos na empresa, que tentou vencer os
grevistas pelo cansaço, desviando as ligações dos clientes da capital gaúcha
para cidades do nordeste, sobrecarregando os trabalhadores de lá.
No início, a greve foi estimulada pelo
sindicato, mas, na medida em que a empresa, em conluio com a mídia local,
tentou invisibilizar a mobilização, por trabalhador contra trabalhador e até
pagar para que os não grevistas votassem em assembleia pelo fim da greve, a
categoria se uniu ainda mais e foi à luta. De maneira ativa, eles participaram
dos piquetes, elencaram representantes de base para acompanhar as negociações
entre o sindicato e a empresa, montaram uma agenda de mobilização e por fim,
realizaram uma grande passeata que percorreu as ruas de Porto Alegre, entoando
palavras de ordem que remetiam as grandes mobilizações de junho: "Ôôô,
call center acordou, call center acordou, call center acordou, ôôô...”
Vídeo de uma passeata da greve no centro de Porto Alegre:
Resultado: a empresa, no dia seguinte
à passeata, chamou o sindicato para negociação. Da reunião, que durou dois
dias, com vigília intensa dos trabalhadores em frente ao local onde ocorria,
eclodiram as conquistas dessa luta. As propostas negociadas Detalhadas em seus
12 pontos abaixo) apresentaram avanços econômicos mínimos, se comparadas aos
lucros exorbitantes da Contax, bem como se relacionadas às necessidades mais
básicas dos trabalhadores. Mas a luta dessas guerreiras e guerreiros, durante
quase um mês, enfrentando todos os tipos de dificuldades e intempéries
climáticas, foi sem dúvida a maior vitória da categoria!
As operadoras e operadores do setor de telemarketing e call center são tratados dessa forma há anos, mas o Brasil inteiro assistiu a grande mídia noticiando essa dura realidade nas últimas semanas. Atualmente, o país tem mais de um milhão e meio de pessoas que atuam nesse setor e vivenciam condições de trabalho com intenso desgaste e precarização.
Mais de 70% dos cargos nessas empresa são ocupados por
mulheres que, em geral, são jovens negras e que realizam atividades intensas
por seis horas diárias. Essa exploração também atinge um contingente de LGBTs
que sofrem ações homofóbicas, mascaradas por uma suposta ausência de
preconceito. Todos esses trabalhadores recebem baixos salários como reflexo
justamente da sua invisibilidade na sociedade.
Nós, do Movimento Mulheres em Luta, parabenizamos
as trabalhadoras e trabalhadores da Contax que estiveram mobilizados nessa
greve justa e necessária. Nos dispomos a estar juntas na batalha por uma vida
digna, pois não pode existir tratamento ou salário diferenciado por gênero, cor
ou orientação sexual. Como
organização feminista e classista que luta contra o machismo e fortalece a
organização das mulheres, queremos
salário igual para trabalho igual, pois o lucro não pode estar a serviço do
sacrifício dos trabalhadores. Vamos dizer NÃO às senzalas modernas! Trabalhadores não são mercadoria!
Abaixo segue a proposta
negociada com a empresa e aceita por unanimidade pelos trabalhadores da
Contax:
1. Piso Salarial no valor de
R$ 724,00 a ser adequado às alterações do salário mínimo nacional em janeiro de
2015;
2. Vale-refeição:
a) No valor facial de 12,90
para os trabalhadores de 220 horas;
b) Para os trabalhadores de
180 horas o valor facial será de R$ 4,90 (retroativo) a contar de 1º de maio de
2014, mantida a participação do trabalhador no valor de R$ 6, 00 (seis reais)
mensais; a partir de janeiro de 2015 o vale-refeição passa a ser de R$ 5,00
(cinco reais) mantido o mesmo desconto; abono líquido no valor de R$ 120,00 a
ser pago em uma única parcela a título de vale-refeição excepcional. O
pagamento do abono será no dia 06/11/2014 se a proposta for aprovada pelos
trabalhadores até o dia 04/11/2014;
3. A apresentação do
atestado médico será agora no prazo de 72 horas após o retorno ao trabalho,
ficando garantido que o empregado deve comunicar a sua ausência à empresa
através dos meios existentes, ou por qualquer pessoa por ele nomeada;
4. Abono de cinco dias por
ano para acompanhamento do filho;
5. Auxílio Creche no valor
de R$ 160,00 para os filhos até 48 meses de idade (retroativo) a contar de 1º
de maio de 2014;
6. Todas as diferenças
salariais e vantagens concedidas retroativas (de 1º de maio de 2014 até outubro
do mesmo ano) serão pagas no dia 6 de novembro de 2014;
7. Manutenção de todas as
demais cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho;
8. Os dias de greve serão
abonados pela metade e a outra metade compensada em até 4 meses não sendo
computadas nesse período as férias dos trabalhadores, nem o repouso remunerado
no período da greve. A compensação poderá ser realizada antes do início ou após
o turno de trabalho e quem tiver interesse poderá compensar os dias de greve
abatendo do seu respectivo banco de horas;
9. Não serão descontados os
vales-transportes e alimentação durante o período da greve;
10. Na hipótese de extinção
do contrato de trabalho por qualquer motivo, os dias de greve pendente por
compensação não serão descontados;
11. A empresa assegura que
não haverá retaliações, perseguições ou qualquer prejuízo aos trabalhadores por
conta da greve;
12. O salário integral dos
grevistas será pago no dia 6 de novembro de 2014.
Confira algumas fotos da Greve:
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