Babi Borges, do Setorial LGBT da CSP Conlutas e do MML
A preocupação que levou a instituir a data tinha a ver com descaso e
desconhecimento da opressão que as lésbica sofriam em todas as esferas de sua
vida. Elas acreditavam que a existência de um Dia Nacional de Visibilidade
contribuiria para que a sociedade discutisse tais problemas e que atividades
neste sentido fossem amplamente organizadas. De lá para cá, o dia de luta se
consolidou e se fortaleceu, de modo que diversas organizações preparam
iniciativas de combate a opressão. Outra preocupação que as ativistas tinham
era com o isolamento daquelas mulheres que queriam defender as bandeiras
específicas das lésbicas, que naquele momento, não possuiam um referência de
organização comum aos demais explorados e oprimidos. Elas queriam, assim,
fomentar a criação de mais grupos de mulheres lésbicas.
Assim como as lésbicas reunidas no Rio de Janeiro em 1996, nós, do
Movimento Mulheres em Luta e da CSP Conlutas, não temos dúvida da importância
da organização das mulheres lésbicas. Sabemos que para resistir aos ataques dos
governos e patrões aos nossos direitos e que para conquistar outros, não há
outro caminho senão o da organização e mobilização. Por isso, neste dia, não
deixaremos de reafirmar essa necessidade. No entanto, acreditamos que nossa
realidade só pode ser transformada se entendermos quais são, de fato nossos
verdadeiros inimigos e aliados. Isso fica claro quando analisamos qual é a
realidade enfrentada pelas mulheres e homossexuais da classe trabalhadora e que
papel tem cumprido a burguesia e seus governos.
Nos últimos anos o Brasil vem em disparada, cada vez mais a frente, como
o país em que ocorrem mais crimes motivados por homofobia. No ano passado, a
cada 36 horas um homossexual era assassinado. Neste ano, pelo número de
assassinatos ocorridos até o inicio deste mês, esse número pode dobrar.
Os dados em relação ao aumento da violência contra as mulheres também tem
crescido assustadoramente. Diversos relatórios de violência, como o “Mapa da
Violência 2012”, do “Disque 100”, do Grupo Gay da Bahia, e outros, demonstram
que a realidade para os setores oprimidos da sociedade – negros, mulheres e
LGBTs -, está piorando de maneira alarmante. A violência contra mulheres e
homossexuais nas periferias nunca vitimou tanta gente.
Seria interessante apresentar dados da violência ou outros precisos que
traduzam a situação da mulheres lésbicas. No entanto, estes não existem. Isso,
infelizmente não nega a dupla opressão vivida pelas lésbicas. É na verdade mais
uma expressão de descaso e omissão do Poder Público em relação a este setor da
sociedade. Aí está também a tal da “invisibilidade lésbica”. Sem dados, é ainda
mais fácil negar políticas públicas para combater a homofobia e o
machismo. Apesar disso, é evidente que
as mulheres homossexuais da classe trabalhadora sejam mais exploradas, pois
ocupam, frequentemente, postos de trabalho mais desvalorizados. Nas empresas de
telemarketing, por exemplo, a proporção de lésbicas e bastante grande.
A disseminação do machismo e da homofobia combinados, também torna as
lésbicas mais vulneráveis ao assédio moral e sexual, coisa que serve muito bem
ao aumento da exploração. Na escola, a discriminação e a violência contra as lésbicas tomou
prporções também assustadoras nos últimos anos. Foi neste sentido que foi
desenvolvido o “kit escola sem homofobia”. Se não tivesse sido vetado pela
presidente Dilma, teria sido um instrumento para que a educação refletisse
sobre o problema da opressão e avançasse.
Na saúde, as lésbicas não encontram assistência condizente com suas
especificidades, sofrem constrangimentos constantes e sua sexualidade não é
levada em consideração. Não lhe são oferecidas condições para o exercício
seguro da sua sexualidade.
Nos últimos anos, o número de lésbicas assassinadas por homofobia no
Brasil dobrou. Sabemos que as lésbicas estão mais vulneráveis também ao estupro
que as demais mulheres. Mais uma vez o machismo e a homofobia se combinam numa
prática absurda e recorrente, que é a do “estupro corretivo” – um jeito de
castigar as lésbicas e reeduca-las em relação ao seu “devido”papel numa relação
sexual.
Diante desta situação triste, vimos que o Governo Dilma, o primeiro
governo de uma mulher neste país, não tem trazido avanços em relação ao combate
ao machismo. Apesar da Lei Maria da Penha, a violência contra a mulher aumentou. E
assim tem sido porque este governo reduz cada vez mais as verbas destinadas a
aplicação da Lei e a assistência social. Faltam creches, faltam casas abrigo,
faltam delegacias especializadas em atender as mulheres, e tudo mais que
possa romper o ambiente favorável a perpetuação da violência e de impunidade aos
agressores.
Embora o movimento LGBT venha exigindo incansavelmente a aprovação da
lei que criminaliza a homofobia, Dilma sequer se posicionou em relação a ela.
Marta Suplicy, negociou a reformulação desta lei aqueles que pregam o ódio
todos os dias na TV, de maneira a flexibiliza-la ao máximo, e ainda assim não
pôde aprová-la. Dilma trocou o “kit anti-homofobia” pela defesa corrupção, ao fazer uma
negociação espúria com setores conservadores do Governo, em troca da proteção
do ex-Ministro Palocci, envolvido em grandes desvios de dinheiro.
Nossos direitos não podem seguir
sendo negociados
Para mudar essa realidade é necessário garantir a aplicação da Lei Maria
da Penha, ampliando os investimentos do governo. Só assim, é possível assistir
as vítimas de violência. O PLC 122/06, projeto de lei que criminaliza a
homofobia deve ser aprovado já e o veto ao “kit escola sem homofobia” deve ser
revogado pela presidenta.
É preciso que os direitos dos casais heterossexuais sejam estendidos
também aos casais do mesmo sexo. É por esses e outros direitos, para combater o
machismo, a homofobia e o racismo, que nós do MML e da CSP Conlutas, chamamos
as mulheres a organizarem e se mobilizarem. Somente a nossa luta, independente
dos governos e patrões, com os demais trabalhadores e que pode transformar essa
sociedade.
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