“Mulheres comportadas
raramente fazem história”.
Marylin
Monroe.
A
realidade expressada vivida, dentro e fora da tela grande, é muito cruel com as
mulheres. Ainda que nos primórdios do cinema, nos anos 10 e 20, as mulheres
desfrutassem de uma maior participação na indústria cinematográfica, embora
relegadas ao posto de sexy simbol das telas de cinema de Hollywood como Marylin
Monroe, enquanto que em outros países como a França, a francesa Alice
Guy-Blaché foi, não apenas a primeira mulher a dirigir um filme, mas
possivelmente a primeira cineasta. As mulheres sempre participaram ativamente
da sétima arte.
Na cerimônia de entrega do Oscar esse ano,
quando a atriz Patrícia Arquette , ao ganhar a estatueta de melhor atriz
coadjuvante, em seu discurso de agradecimento, disse: "é nossa hora de ter
igualdade de salários de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres
nos Estados Unidos", ela não estava falando de uma situação isolada.
Infelizmente, seu discurso reflete a situação das mulheres no mundo do cinema
americano e que reflete a situação do cinema brasileiro, por exemplo, no que
tange a situação da mulher e como ela é tratada.
Ao analisar a história do cinema, como surgiu
e sua evolução até os dias atuais, percebe-se que a Mulher não influenciou o
surgimento da Sétima Arte. No entanto, ainda que os grandes feitos primordiais
do cinema tenham sido protagonizados pelos homens como as experiências
realizadas por William George Horner, Willian Fitton, J. A. Ferdinand Plateau
ou Émile Reynoud e a invenção do cinématografo, em 1891, por Thomas Edison, o papel
da mulher na história do cinema sofreu uma grande evolução. Muito dessa
evolução se deu a partir do impacto das primeiras manifestações femininas no
mundo cinematográfico que não só influenciaram as mentalidades da sociedade da
época bem como ajudaram na construção do papel feminino além da inserção do
trabalho de atrizes na tela grande.
Como
foi dito no discurso de Patrícia bem como no início do texto, as mulheres no
cinema, sempre foram tratadas de forma diferenciada até os dias de hoje. A ideologia
machista também influencia a sétima arte e muitas lutas dentro e fora da tela
grande, se deram para que a mulher conquistasse seu espaço e respeito. Ao longo
de toda a história do cinema, algumas atrizes são dignas de destaque,
caracterizando a história contemporânea: Theda Bara é considerada a primeira
“mulher fatal”, ainda na época do cinema mudo. Depois dela, várias se seguiram:
Mary Pickford, Greta Garbo, Marlène Dietrich, Mae West, Ingrid Bergman, Ava
Gardner, Rita Hayworth, Carmen Miranda, Marylin Monroe, Audrey Hepburn, Jane
Fonda. Ao mesmo tempo, não podemos negligenciar o papel das realizadoras,
embora, inicialmente, o papel da realização e produção estivesse totalmente
entregue aos homens, ao longo dos tempos veio a dar-se uma abertura cada vez
maior destes cargos a mulheres, como em tantos outros cargos tradicionalmente
masculinos, e diretoras como Leni Riefenstahl, Jane Fonda, Jodie Foster, Mira
Nair, Kathryn Bigelow, Sofia Coppola ou Teresa Villaverde escreveram seus nomes
no panteão dos deuses do cinema.
Ainda
que ao longo da história do cinema, várias mulheres tivessem conseguido
destaque, o machismo sempre foi um dos principais obstáculos para que elas
alcançassem seu lugar ao sol. É de conhecimento geral, ou deveria ser, que a indústria
do cinema, de modo geral, é machista, patriarcal, também é racista e
heteronormativa. A participação da mulher, seja atrás ou em frente às câmera é
limitada. Como notado pelo crítico americano Kevin B. Lee em seu artigo, as
atrizes femininas recebem menos tempo de tela do que seus homólogos masculinos,
mesmo quando estas são protagonistas no filme em questão. Kevin B. Lee pega
como exemplo os indicados ao Oscar de melhor filme esse ano (2014). Em seu texto Lee aponta que os atores principais
tem, aproximadamente, 85 minutos em tela, já as atrizes, cerca de 57 minutos.
Ou seja, os homens ocupam 150% mais tempo de tela do que as mulheres. Os
números do ano passado são ainda mais estarrecedores – 100 minutos para os
atores, 49 minutos para as atrizes.
O
salário das mulheres na indústria do cinema americano também é desproporcional.
Um estudo realizado pela USA Today, mostra que as mulheres em seus vinte e
poucos anos conseguem se manter no mesmo piso salarial que os homens, no
entanto, à partir dos 34 anos o salário das mulheres despenca enquanto o dos
homens tendem a manter certa estabilidade.
A
situação das mulheres que operam atrás da câmera é ainda pior. Em 2013, uma
pesquisa realizada pelo Sundance Film Festival, o maior festival de cinema dos
Estados Unidos, aponta que, de todos os 81 filmes exibidos, 71.1% de todos os
realizadores (1.163, entre diretores, roteiristas, produtores, montadores e
fotógrafos) eram homens e apenas 29.9% eram mulheres.
E
quando se fala da mulher negra no cinema então... Uma pesquisa nacional da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no que dizem respeito às
mulheres negras, elas estão fora das telas de cinema. Apesar de ser a maior
parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de
dois a cada dez longas metragem entre os anos de 2002 e 2012. Além disso,
atrizes pretas e pardas representaram apenas 4,4% do elenco principal de filmes
nacionais. Nesse período, nenhum dos mais de 218 filmes nacionais de maior
bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista.
O
Oscar desse ano não teve nenhuma mulher negra indicada a qualquer categoria. Na
história do prêmio, apenas sete atrizes negras ganharam o Oscar em 86 anos de
premiação. E somente Halle Berry, em 2002 pelo filme A Última Ceia, foi
premiada com o Oscar de melhor atriz sagrando-se a primeira atriz negra (e
única até o momento) a receber a estatueta nesta categoria.
Voltando
à questão do machismo, este não reside apenas na indústria cinematográfica, o
machismo é encontrado nas estruturas mais básicas do cinema, em sua própria
estrutura narrativa. O cinema narrativo clássico por muitas vezes é,
corretamente, acusado de disseminar estereótipos femininos através de uma ótica
masculina. Essa ótica masculina torna-se muito evidente quando analisamos a
estrutura primordial dessas narrativas – A Jornada do Herói. A crítica
feminista Claire Johnston analisou, através da semiótica, o conceito de mito de
Roland Barthes e em sua análise identifica “mulher” como um signo que só exerce
significação quando relacionada a outro signo, o do “homem” ou “herói”.
Johnston aponta que o signo “mulher” ideologicamente representa o que “mulher”
significa para o “homem”, em relação a si mesma “mulher” não significa nada.
É
possível se pensar num cinema feminista? Segundo o teórico Christian Metz, o
cinema tem como um de seus pilares não apresentar seu processo de criação, pois
é a linguagem que mais aparenta ser “real”. O fato do cinema se basear e
procurar a noção de realismo torna o problema do machismo no cinema ainda mais
preocupante. Não apenas os espectadores masculinos são bombardeados por uma
visão patriarcal da mulher, mas também as próprias espectadoras mulheres. O
impacto negativo dessas imposições mal pode ser medido. É contra essa
representação negativa da mulher na estrutura narrativa que a teoria de cinema
feminista se coloca.
O
cinema é a expressão da burguesia. A arte que a burguesia cria é o cinema. E
sendo o cinema gerador de signos ideológicos é a expressão audiovisual
ideológica do burguês. Ele não é uma arte qualquer. Além de reproduzir a ilusão
da realidade é uma arte apoiada na máquina, uma das musas da burguesia. Une-se
assim, a técnica e a arte para realizar o sonho de mostrar a realidade nas mãos
da burguesia.
A
teoria feminista no cinema, que surgiu por volta da década de 60, pede por
filmes com uma representação POSITIVA das mulheres e uma ótica feminina predominante,
com o intuito de educar tanto homens quanto mulheres.
Fontes:
mulheresecinema.blogs.sapo.pt
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