quarta-feira, 11 de março de 2015

A Mulher e o Cinema: Por que ainda estamos longe da igualdade?




“Mulheres comportadas raramente fazem história”.
Marylin Monroe.

A realidade expressada vivida, dentro e fora da tela grande, é muito cruel com as mulheres. Ainda que nos primórdios do cinema, nos anos 10 e 20, as mulheres desfrutassem de uma maior participação na indústria cinematográfica, embora relegadas ao posto de sexy simbol das telas de cinema de Hollywood como Marylin Monroe, enquanto que em outros países como a França, a francesa Alice Guy-Blaché foi, não apenas a primeira mulher a dirigir um filme, mas possivelmente a primeira cineasta. As mulheres sempre participaram ativamente da sétima arte.

 Na cerimônia de entrega do Oscar esse ano, quando a atriz Patrícia Arquette , ao ganhar a estatueta de melhor atriz coadjuvante, em seu discurso de agradecimento, disse: "é nossa hora de ter igualdade de salários de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos", ela não estava falando de uma situação isolada. Infelizmente, seu discurso reflete a situação das mulheres no mundo do cinema americano e que reflete a situação do cinema brasileiro, por exemplo, no que tange a situação da mulher e como ela é tratada.



 Ao analisar a história do cinema, como surgiu e sua evolução até os dias atuais, percebe-se que a Mulher não influenciou o surgimento da Sétima Arte. No entanto, ainda que os grandes feitos primordiais do cinema tenham sido protagonizados pelos homens como as experiências realizadas por William George Horner, Willian Fitton, J. A. Ferdinand Plateau ou Émile Reynoud e a invenção do cinématografo, em 1891, por Thomas Edison, o papel da mulher na história do cinema sofreu uma grande evolução. Muito dessa evolução se deu a partir do impacto das primeiras manifestações femininas no mundo cinematográfico que não só influenciaram as mentalidades da sociedade da época bem como ajudaram na construção do papel feminino além da inserção do trabalho de atrizes na tela grande.

Como foi dito no discurso de Patrícia bem como no início do texto, as mulheres no cinema, sempre foram tratadas de forma diferenciada até os dias de hoje. A ideologia machista também influencia a sétima arte e muitas lutas dentro e fora da tela grande, se deram para que a mulher conquistasse seu espaço e respeito. Ao longo de toda a história do cinema, algumas atrizes são dignas de destaque, caracterizando a história contemporânea: Theda Bara é considerada a primeira “mulher fatal”, ainda na época do cinema mudo. Depois dela, várias se seguiram: Mary Pickford, Greta Garbo, Marlène Dietrich, Mae West, Ingrid Bergman, Ava Gardner, Rita Hayworth, Carmen Miranda, Marylin Monroe, Audrey Hepburn, Jane Fonda. Ao mesmo tempo, não podemos negligenciar o papel das realizadoras, embora, inicialmente, o papel da realização e produção estivesse totalmente entregue aos homens, ao longo dos tempos veio a dar-se uma abertura cada vez maior destes cargos a mulheres, como em tantos outros cargos tradicionalmente masculinos, e diretoras como Leni Riefenstahl, Jane Fonda, Jodie Foster, Mira Nair, Kathryn Bigelow, Sofia Coppola ou Teresa Villaverde escreveram seus nomes no panteão dos deuses do cinema.

Ainda que ao longo da história do cinema, várias mulheres tivessem conseguido destaque, o machismo sempre foi um dos principais obstáculos para que elas alcançassem seu lugar ao sol. É de conhecimento geral, ou deveria ser, que a indústria do cinema, de modo geral, é machista, patriarcal, também é racista e heteronormativa. A participação da mulher, seja atrás ou em frente às câmera é limitada. Como notado pelo crítico americano Kevin B. Lee em seu artigo, as atrizes femininas recebem menos tempo de tela do que seus homólogos masculinos, mesmo quando estas são protagonistas no filme em questão. Kevin B. Lee pega como exemplo os indicados ao Oscar de melhor filme esse ano (2014).  Em seu texto Lee aponta que os atores principais tem, aproximadamente, 85 minutos em tela, já as atrizes, cerca de 57 minutos. Ou seja, os homens ocupam 150% mais tempo de tela do que as mulheres. Os números do ano passado são ainda mais estarrecedores – 100 minutos para os atores, 49 minutos para as atrizes.

O salário das mulheres na indústria do cinema americano também é desproporcional. Um estudo realizado pela USA Today, mostra que as mulheres em seus vinte e poucos anos conseguem se manter no mesmo piso salarial que os homens, no entanto, à partir dos 34 anos o salário das mulheres despenca enquanto o dos homens tendem a manter certa estabilidade.

A situação das mulheres que operam atrás da câmera é ainda pior. Em 2013, uma pesquisa realizada pelo Sundance Film Festival, o maior festival de cinema dos Estados Unidos, aponta que, de todos os 81 filmes exibidos, 71.1% de todos os realizadores (1.163, entre diretores, roteiristas, produtores, montadores e fotógrafos) eram homens e apenas 29.9% eram mulheres.

E quando se fala da mulher negra no cinema então... Uma pesquisa nacional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no que dizem respeito às mulheres negras, elas estão fora das telas de cinema. Apesar de ser a maior parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas metragem entre os anos de 2002 e 2012. Além disso, atrizes pretas e pardas representaram apenas 4,4% do elenco principal de filmes nacionais. Nesse período, nenhum dos mais de 218 filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista.

O Oscar desse ano não teve nenhuma mulher negra indicada a qualquer categoria. Na história do prêmio, apenas sete atrizes negras ganharam o Oscar em 86 anos de premiação. E somente Halle Berry, em 2002 pelo filme A Última Ceia, foi premiada com o Oscar de melhor atriz sagrando-se a primeira atriz negra (e única até o momento) a receber a estatueta nesta categoria.

Voltando à questão do machismo, este não reside apenas na indústria cinematográfica, o machismo é encontrado nas estruturas mais básicas do cinema, em sua própria estrutura narrativa. O cinema narrativo clássico por muitas vezes é, corretamente, acusado de disseminar estereótipos femininos através de uma ótica masculina. Essa ótica masculina torna-se muito evidente quando analisamos a estrutura primordial dessas narrativas – A Jornada do Herói. A crítica feminista Claire Johnston analisou, através da semiótica, o conceito de mito de Roland Barthes e em sua análise identifica “mulher” como um signo que só exerce significação quando relacionada a outro signo, o do “homem” ou “herói”. Johnston aponta que o signo “mulher” ideologicamente representa o que “mulher” significa para o “homem”, em relação a si mesma “mulher” não significa nada.

É possível se pensar num cinema feminista? Segundo o teórico Christian Metz, o cinema tem como um de seus pilares não apresentar seu processo de criação, pois é a linguagem que mais aparenta ser “real”. O fato do cinema se basear e procurar a noção de realismo torna o problema do machismo no cinema ainda mais preocupante. Não apenas os espectadores masculinos são bombardeados por uma visão patriarcal da mulher, mas também as próprias espectadoras mulheres. O impacto negativo dessas imposições mal pode ser medido. É contra essa representação negativa da mulher na estrutura narrativa que a teoria de cinema feminista se coloca.

O cinema é a expressão da burguesia. A arte que a burguesia cria é o cinema. E sendo o cinema gerador de signos ideológicos é a expressão audiovisual ideológica do burguês. Ele não é uma arte qualquer. Além de reproduzir a ilusão da realidade é uma arte apoiada na máquina, uma das musas da burguesia. Une-se assim, a técnica e a arte para realizar o sonho de mostrar a realidade nas mãos da burguesia.

A teoria feminista no cinema, que surgiu por volta da década de 60, pede por filmes com uma representação POSITIVA das mulheres e uma ótica feminina predominante, com o intuito de educar tanto homens quanto mulheres. 


Wellingta Macêdo, publicitária, atriz, militante do MML e Quilombo Raça e Classe.



Fontes:


mulheresecinema.blogs.sapo.pt

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