A morte de Margaretch Tatcher no dia 8 de abril fez abrir
novamente uma reflexão sobre os impactos da política do Estado mínimo e as consequências
drásticas do modelo neoliberal para a classe trabalhadora. Mas também fez abrir
uma reflexão maior sobre quais garantias são dadas para as mulheres
trabalhadoras quando uma mulher está no poder.
Este segundo debate se abre, sobretudo pela postura que teve
a versão brasileira de um grupo feminista de grande repercussão mundial, o
FEMEN. Em sua página do facebook, o grupo assim descreve a ex-liderança de britânica:
“Nossos sentimentos à Margaret Thatcher, com sua política neoliberal, dirigiu
um governo que reduziu o tamanho do Estado e transformou o Reino Unido. Ela
foi, de longe, uma influência mundialmente, conhecida como Dama de Ferro, por
conta de sua postura inflexível. Foi a primeira mulher a se tornar
primeira-ministra britânica, cargo no qual ficou por três mandatos
consecutivos, entre 1979 e 1990. “Na política, se você quer que algo seja
falado, peça a um homem. Se quer que algo seja feito, peça a uma mulher.”
Lamentamos profundamente essa avaliação e chamamos a todas
as mulheres que tem referência ou simpatia neste grupo a refletir sobre o erro
profundo desta definição da ex-primeira ministra britânica. O erro consiste, em
primeiro lugar, em saudar a implementação do projeto neoliberal, que significou
para milhares de mulheres trabalhadoras na Inglaterra e em todo o mundo -
considerando que Thatcher foi espelho para outros governos desse caráter, como
Pinochet no Chile e Fernando Henrique Cardoso no Brasil – menos direitos
sociais, menos igualdade entre homens e mulheres.
Suas medidas de redução das obrigações do Estado com as leis
trabalhistas fizeram retroceder conquistas importantes, sobre as quais as
mulheres trabalhadoras britânicas têm enorme responsabilidade, com sua garra e
sua luta.
Entretanto, o outro erro profundo dessa análise consiste em
reproduzir uma noção de feminismo que não tem nada de libertário para as
mulheres. A resolução dos problemas fundamentais das mulheres, a luta contra o machismo,
não passa pela localização de mais mulheres no poder. Porque se assim o fosse,
Thatcher deveria ter inaugurado outra era, uma era de conquistas reais das
mulheres trabalhadoras, uma era de avanço nos direitos trabalhistas e sociais e
definitivamente, não é isso que Thatcher significa para a história.
É fato que a localização de mulheres em postos que são
historicamente construídos para serem ocupados pelos homens incide
positivamente sobre a consciência do conjunto da população mundial, e ajuda a
romper com a ideia de que as mulheres servem apenas para o lar, ou para
garantir renda complementar dentro de casa. Entretanto, este elemento positivo
é totalmente superado pelo signo negativo de governos como o de Thatcher, em
que o que se prima é sua condição de classe, seu projeto de governo para a
burguesia britânica, europeia e americana. Portanto, não nos serve, a nós,
mulheres trabalhadoras, como governo.
O episódio da manifestação das mulheres dos mineiros ingleses
que em 1984, durante uma greve deste setor, jogaram tomates e ovos em Thatcher,
na entrada de um evento do partido conservador inglês, revela que quando se
trata de interesses de classe, as mulheres se dividem e ficam em trincheiras
opostas. O Movimento Mulheres em Luta não tem nenhum orgulho desse exemplo de
mulher no poder. E atua cotidianamente para que essa ilusão do empoderamento
das mulheres não tome conta da consciência das mulheres trabalhadoras, afinal,
o fim estratégico do machismo e da exploração, em nossa opinião, é com a
construção do poder de mulheres e homens da classe trabalhadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário